terça-feira, 19 de agosto de 2014

Nem tudo que reluz é ouro

Sempre gostei de velhinhos. Não no sentido sexual, óbvio, falando melhor, sempre achei velhinhos seres humanos muito fofinhos e cheios de sabedoria. Portanto, não surpreendeu nenhum dos meus amigos, o fato de eu bater os olhos no professor de Criminologia, pela primeira vez, e achá-lo a criatura mais fofa do mundo, digna de viver em um mundinho rosa, cheio de unicórnios e bebês gorduchinhos.
Entretanto, qual não foi a minha surpresa ao constatar que antigos alunos seus o odiavam. E a única coisa que eu conseguia pensar era: "Como alguém pode odiar esse senhor, meu deus?". Mas concluí que as pessoas sempre foram muito cruéis, principalmente com professores e, apesar de defendê-lo de todas as formas - não obtendo sem sucesso - acabei deixando pra lá.
Alguns dias depois da tal discussão sobre o professor, adentrei a sala para a sua aula pela terceira vez. Embora eu não conseguisse ouvir uma palavra dita por aquele senhor - e até hoje não consigo -, ainda sim ia pra aula, pois, sendo a matéria optativa, a turma só tinha uns dez, doze alunos, no máximo. Apareciam uns seis por aula, por aí. E lá eu ia, ao menos, para cumprir tabela.
Lá estava eu, entretida jogando 2048 - ô joguinho viciante do capeta! -, quando de repente eu ouço a voz do professor. Mas não bastava só esse fato fenomenal, eu ouço ele falando sobre a ditadura. Confesso ter saído um pouco traumatizada daquela aula. Pelo visto, não houve e nem há porque criar tanta revolta em torno da ditadura brasileira, ela não foi absolutamente nada em face de outras ditaduras, mas não se equivoquem pensando que o professor estaria ali defendendo ela, não, que é isso? Mas ela trouxe coisas boas sim, inclusive impediu que a raça comunista tomasse conta do Brasil, já pensou se o Brasil virasse comunista? Pois é, a ditadura do Brasil nem foi tão ruim assim, ao menos as pessoas se sentiam seguras...
Depois dessa aula, já não fazia mais nem questão de ir para as outras. Veja bem, nada contra o professor, mas eu não queria estragar a visão de velhinho fofinho que tinha dele. Preferia ficar com a imagem passada das duas primeiras aulas, em que ele deve ter falado algumas coisas meio absurdas, mas eu não conseguia ouvir mesmo, então tudo bem.
O problema é que alguma hora eu teria que voltar às aulas, então, voltei. Não teve jeito. O velhinho fofinho simplesmente não existe mais. O que vejo agora é um senhor que não tem mais condições de dar aula e não reconhece isso. Até a babinha dele que nem incomodava tanto nos primeiros dias, simplesmente me causa repulsa agora. O professor é um verdadeiro Silas Malafaia, caquético, fingindo dar aula de Criminologia. E eu sei que cada um tem a sua opinião, liberdade de expressão, pode ser filiado do partido democrata cristão, esse negócio todo, mas eu não sou nem uma égua pra ficar ouvindo que o casal "normal" é o de homem e mulher, que a mulher é mais detalhista e gosta de arrumar as coisas - cadê minha mãe pra dizer que eu não sou assim? -, que a Lei Maria da Penha não deve ser aplicada a casais homossexuais... Enfim, o velhinho despirocou e parece que quer marcar prova e eu só consigo me perguntar, "Qual a porra do assunto? Alguém sabe?". Ninguém sabe, ninguém ouviu.